Era pra ser...

        
       Era pra ser um dia feliz. Um livro na mão. Um sentimento duro, gritando pra sair. Com meus cabelos bagunçados de preguiça. Uma sala escura. Escura. 
Eu não conseguia ler o livro. Cada palavra que lia, surgia uma lembrança que queria esquecer. Sim, era sobre você, suas qualidades e defeitos. Grandes defeitos de menino que machucou uma mulher. Eu sou essa mulher. Um pouco desequilibrada, um pouco lúcida, um pouco romântica demais, um pouco insensata demais, um pouco dramática demais. Mas esta sou eu. O que posso fazer? Sou eu...
O livro não possuia figuras, então minha imaginação projetava-se em lembranças que eu gostaria de recuperar para meu mundo real, para minha realidade estorquida de dor. Seus olhos abissais negros ainda me perseguem, mesmo eu não os vendo realmente. Sua voz ecoava em cada página virada do livro em que lia. E eu precisava me concentrar, até porque meu coração estava sendo esprimido pela lembrança inoportuna.
Até que fechei os olhos...
Senti seus lábios quentes encostando nos meus, trêmulos. E senti por poucos minutos o doce sabor da lembrança. E o sabor amargo da dor. A dor de não te ter, a dor de você imaginar bravamente que estou com outro alguém, enquanto na realidade, estou deitava na cama deprimida e com poucas forças para conseguir viver sem ti. Eu consigo sim, mas fica um vazio...
Eu não aguentei ler o livro, fechei-o com lágrimas frágeis que rolavam em meu rosto sem expressão. Voltei a minha cama, enrolada no cobertor e peguei num leve sono. Não adiantou muito...
Sonhei com você.