quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Uma menina sábia perdida por ai

      
   Estava numa praça olhando tudo ao meu redor. As crianças brincando. Cachorros correndo pela praça. Casais namorando tomando sorvete de flocos. Eu, com um romance na mão, achando uma baboseira tanto amor no livro. "A vida nem é assim", pensei.
    Do nada, uma garotinha, que devia ter 6 anos de idade, sentou do meu lado, com um sorvete na mão. Ela, branquinha, com seus cabelos cacheados meio loiro, com o olhar mais inocente do mundo, ficou me fitando com o olhar inquestionável, como se quisesse saber sobre o que é ser adulto. Olhei-a com ar de "pode perguntar sobre qualquer coisa, menos de amor". A menina olhou pros lados e me disse:
    - Tia, como é ser uma menina mais velha?
    Tirei os meus olhos do livro e a olhei. Pensei um pouco. Não estava muito segura sobre o que responder para uma menina de 6 anos. Minha resposta podia dar-lhe motivos para crescer ou podia estragar a vida dela. Infelizmente, a menina me lembrava a quando eu era criança. Eu era exatamente igual a ela. Mas nunca fiz essa pergunta pra ninguém, porque eu queria crescer. Hoje me arrependo de não ter sido tão inteligente em não ter feito uma pergunta dessas...
    - Bom... Hum... - Eu estava preparando as palavras para não assustá-la, mas só vinha palavrões na cabeça. - Qual é o seu nome, menina?
    - Meu nome é Alice. - diz ajeitando o vestido. - E qual é o seu, moça?
    - Meu nome é Drieli, mas como todo mundo erra meu nome, pode me chamar de Dri.
    - Então tia Dri, como é ser uma menina mais velha?
    Eu não sabia o que dizer, qualquer palavra mal formada podia fazê-la correr de perto de mim.
    - Bem Alice, a vida é muito boa na sua idade, sabe? - Tentei rodear a resposta pra não falar besteira. - Não precisa se preocupar em querer saber sobre ser mais velha. Aproveite sua idade.
    - Mas tia, eu não quero crescer. E sei que os adultos não amam, não tem coração, são feios e egoístas.
    Olhei pra garota assustada. Queria dizer-lhe que não era bem assim. Mas parei pra pensar bem. E ela está certa em todo o caso. "Meu Deus, de onde ela veio?" A menina era mais esperta que eu.
    Enquanto eu estava pensando em como a menina sabia o significado de egoísmo, ela emenda:
    - Minha irmã chora todos os dias por um garoto que ela diz que é um besta. Eu não gosto dele, só por fazê-la chorar. Vejo ela reclamando que meus pais não dão espaço pra ela crescer e ficam cobrando-a a ser adulta. Mas tia, se eles a tratam como criança, como ela pode ser adulta?
    Eu olhei pros lados. Não havia palavras em minha mente naquele momento. A garota é uma sábia mirim. E só tinha 6 anos.
    - Infelizmente Alice, os adultos são tão crianças como você. Na verdade, os adultos são crianças sujas e ranhetas, que se perdem nesse mundinho chamado Terra. Eles estão mais perdidos do que qualquer outro ser do mundo. Quando crescemos, esquecemos valores de infância: Amor, respeito, tolerância, dignidade e até a honestidade. Poucos são aqueles que podem ser considerados humanos. A maioria são projetos mal formados. A ignorância, a ganância e outras 'âncias' corromperam eles, projetos mal desenvolvidos.
    Ela me olhou como se já soubesse disso. E na verdade sabia.
    - Tia, eu só tenho 6 anos, mas ao meu redor eu vejo as coisas e as entendo, mesmo sendo criança. Eu não quero amar, e se por acaso eu vier a amar alguém vai ser por alguém que já tenha feito tudo por mim. Eu sou pequena e tenho um coração pequeno. Quando eu crescer não quero que meu coração tenha cicatrizes por causas de idiotas como o garoto que minha irmã gosta. Vou viver só pra mim. E que se dane os meninos. Nós meninas crescemos e largamos nossos brinquedos. Os meninos crescem e se prendem mais a carrinhos e videogames. Só um tiquinho de meninos que crescem e se tornam meninos grandes e que valorizam os sentimentos. Eu vejo você tia. E vejo que sofre por amor. Liga não. Um menino grande que te falei vai aparecer na sua vida. E vai valorizar você. - Ela olha pro sorvete derretido. - Não quero mais isso. Já me sujou. Nada que suja serve pra nós. Isso vale no amor também.
    A menina levanta e vai caminhando em direção a mãe dela que se encontra em algum lugar. Com essa pouca idade, a vida já lhe mostrou que não é nada fácil crescer.. A garota só tem 6 ANOS e é mais inteligente que eu. Eu , de boca aberta, sem palavras literalmente,a chamei e só consegui fazer-lhe uma  pergunta assustada :
    - Alice, você brinca de boneca?

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