quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Uma história real, uma cena quase real e um desabafo sutil

               
   Eu me vejo num bar. Uma espelunca de bar. Estou sentada numa mesa, afogando minhas mágoas na vodka e desabafando com o Zé, sentado ao meu lado. Estou um caco de mulher, uma sombra do que já fui um dia. Dilacerada pelas decepções da humanidade e pela ignorância dos homens. Eu olho pro Zé com os meus olhos borrados de rímel por causa de tanta lágrima que cai deles. Zé não opina em nada. Só ouve meus lamentos de mulher romântica e sofrida:
    - Zé, você é um daqueles panacas que parte o coração de uma mulher? - Eu digo soluçando - Porque se for, meto-lhe a mão na cara.
    Zé olha pra mim com o semblante totalmente tranquilo e atento as minhas angústias, mas não diz nada.
    - Zé, você sabe minha história? Eu mais uma vez acreditei em palavras e me estabaquei no chão outra vez. Dizem com tanta certeza que amam, que a gente até acredita fielmente. Babaca. Só posso ser uma babaca. - Soluço mais uma vez e tomo mais um copo de vodka. - Eu amo um cara. Porra, isso não é novidade pra você. Vivia falando dele... Ele era um príncipe, cuidava de mim, me sentia segura quando ele me abraçava, dizia que não queria me perder. Dizia que o que ele sentia por mim era maior que amor. Mas na hora da dificuldade, na hora que ele deveria demonstrar isso, foi o primeiro a cair fora. Covarde!
    Começo a chorar. Não só por sofrer por amor, mas por raiva das pessoas usarem as palavras em vão. Zé continua me olhando intacto. Não há nenhuma expressão em seu rosto. Eu nem ligo, o que eu quero mesmo é desabafar e enfiar minha cara na bebida.
    - Vocês homens, prometem o mundo e não tem capacidade de cumprir nem um terço disso. Queria dizer que sou forte, que não preciso dele, que ele é só mais um cara insignificante que Deus colocou na minha vida pra aprender de uma vez por todas que homem não merece nenhum pedaço sangrando do meu coração. Queria dizer que não sinto a falta dele. Que nem lembro dele e não durmo com vontade de abraçá-lo. Queria ter a coragem de dizer que ele não foi nada pra mim. Mas Zé, eu não gosto de mentir. Se eu dissesse isso, seria a maior mentira do mundo. Porque, infelizmente, sinto falta de tudo dele. - Começo a chorar descontrolavelmente e deixo cair o copo de vodka da minha mão, levanto da mesa e começo a falar alto, pra todos ouvirem no bar - Eu sei o que vocês todos estão fazendo aqui nesse bar. Estão afogando as mágoas do amor nesses vários copos de bebida. Que tem o coração partido por um idiota ou uma idiota que diz que te ama e depois pede pra esquecê-lo. Que nem se importa em saber se você está bem. Que não sonha contigo. Que ligou o "foda-se" pro que disse que sentia por você. Esquecem que somos humanos também e que temos um coração com o nome da pessoa gravado dentro. Queria ser forte o suficiente pra dar um murro na cara dele, sorrir depois da porrada e dizer: "Ô menino, EU TE AMO, seja homem e lute por mim já que diz que ama". Mas as coisas infelizmente não soa assim para quem é extremamente carinhosa ou sentimental. Na verdade a cena seria diferente, porque se estivéssemos frente-a-frente, a única coisa que gostaria de fazer era beijá-lo. Que merda, sou toda errada e sei que vocês aí nesse bar são a mesma coisa. Somos fracos por amar muito nesse mundo onde a moda do momento é ser uma pedra e não amar ninguém. A mentira domina aqueles que dizem amar sem saber o significado desse sentimento. O cara que queria até ter filhos comigo, disse que é melhor eu procurar outra pessoa, porque não seria feliz com ele. Que desculpa barata! Eu que tenho que saber disso. A final a vida é minha.
    Fico meio tonta, Zé me segura e coloca-me sentada na cadeira. Mas estou elétrica, eufórica, com raiva. Levanto dando um soco no nariz dele sem querer. Mas não ligo. Ali estou numa guerra com os homens. O Zé é homem. Então vou porra-lo também.
    - Vocês, pessoas que acreditam ainda no amor e sabem o que significa essa palavra, ouçam-me. - Pego uma garrafa de vodka agora e faço o de microfone. - Eu tenho a consciência de que as pessoas que amamos não valem uma única mísera lágrima que cai dos nossos olhos famintos de atenção e carinho. Ninguém vale um único dia deitados no quarto chorando e desabafando com nossos travesseiros. Aliás, nem nosso travesseiro merece isso. As pessoas não merecem as lembranças e saudades que bate em nosso coração e mente. AMAR MEU POVO, SÓ PRA QUEM MERECE. Ou apague do dicionário, como a maioria das pessoas parecem ter feito isso no mundo, o verbo amar e seus derivados. Porque o mundo parece seco e quem transformou o nessa merda toda são esses por quem estamos chorando. Porra, nascemos num planeta que não foi feito para nós. Vivemos com pessoas que não foram feitas para nós. Porque amamos e sabemos amar. Mas meu querido povo bêbado, somos os que mais se ferramos aqui. Reparou isso?
    Levanta de uma mesa, um cara alto, bonito e sofrido, que diz:
    - Eu amo uma garota. Mas ela vive fazendo meu coração de pingue-pongue. A raiva desse sofrimento é tão grande que juro pra todos vocês, gostaria de cuspir nela de tanta raiva por tudo que ela me fez, prometeu e não cumpriu.
    Eu já sentada no chão, praticamente caindo aos pedaços, disse:

    Algumas pessoas levantam e vão embora, com suas expressões faciais mais tristes e sofridas. Talvez ali percebessem que amor é para poucos. O resto desconhece isso e finge com suas ignorâncias humanas que sabem sobre esse sentimento. E fica nessa bola de neve inconstante. Um ama. O outro diz que ama. Esquecem de provar...
    Zé continua caído com o nariz sangrando. Eu não me importo. Ele é homem, duvido que não tenha partido o coração de alguém. Ele tem cara de dizer que ama mas na verdade não ama. Cansei desse lenga-lenga. Levanto, pego minha garrafa de vodka, cuspo no chão e vou embora. Não pretendo voltar.

1 comentários:

Eduardo Viana disse...

Amei o seu texto,você tem muito talento .

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